Nos tempos atuais, principalmente para o ocidental, fala-se em demasia da meditação e os benefícios de uma ‘reintegração pessoal’ gerada por ela. Isso se dá ao fato de inúmeras pessoas buscarem uma ‘válvula de escape’, não aos compromissos da vida, mas as pressões que advém dela. Falamos do estresse e seus sintomas, assim como da depressão, um mal que acomete inúmeras pessoas, além de bloqueios, neuras e obsessões. É crescente em nossa civilização o número de indivíduos cada vez mais chafurdados em sentimentos competitivos, inveja, ciúme, intolerância, raiva, medos e fobias. Estes e outros estados de perturbações crônicas parecem ter se tornado quase endêmicos.
O tamborilar nervoso dos dedos, braços ou pernas e pés, espasmos ou congestões estomacais, a dificuldade de respirar de forma calma, tranqüila e equilibrada, crises no sistema imunológico etc., causas que aparentemente representam sintomas ligados ao estresse ou a depressão e outras mazelas, são habitualmente conectadas a motivos externos. Mas o Yoga não pensa assim. Para a Tradição do Yoga muitas vezes a causa destes problemas é um desequilíbrio ou falta de controle mental ou emocional. Se a mente percebe um obstáculo ou uma ameaça, o corpo costuma reagir lutando ou fugindo. Neste processo, a adrenalina flui com maior intensidade para o organismo, a digestão é perturbada, os músculos se contraem e enrijecem etc. Daí nasce à doença. Contudo, o que geralmente é percebido como uma causa externa causadora de perturbações, de fato, é um equívoco. A verdadeira causa de muitas mazelas pode ser uma só: a reação de nossa mente frente aos eventos ou situações da vida. Em outras palavras, os eventos da vida em si não possuem o poder de desequilibrar o organismo humano, mas sim a atitude com que o ser humano se coloca frente a eles. Quando existe uma clara percepção mental, os eventos podem ser percebidos de forma equilibrada. Desta maneira, as raízes dos problemas podem ser eliminadas na medida em que os obstáculos à percepção são removidos. Isso é conseguido através da meditação.
Mas meditação não é só isso! A palavra meditação costuma ser aplicada a várias formas de controle e redução do estresse. Entretanto, a verdadeira meditação, na acepção que lhe atribui o Yoga e o Áyurveda, não pode ser praticada por uma pessoa que se encontra sob estresse, que possui o corpo frágil, pulmões fracos, músculos retesados, coluna envergada, mente flutuante etc. Muitas pessoas pensam que se sentar quietas é meditação. Isso é um equívoco: a verdadeira meditação leva o praticante ao estado de sabedoria (jñána) e à percepção (prajñá) de si mesmo. A meditação requer concentração com desenvolvimento satisfatório, o que repousa no controle dos sentidos do corpo, da energia vital e da mente. Assim, tentar simplesmente não pensar é criar um espaço em branco em que a consciência não é transformada, mas tão somente levada ao sono.
Grande parte do que é chamado de meditação atualmente é, mais precisamente, pratyáhára (como visualizações) ou dháraná (técnicas de concentração). Mas estes são estágios que antecedem a meditação em si, e são muito bons para acalmar a mente das perturbações psicológicas.
A meditação (dhyána) é a capacidade de conservar a atenção voltada durante um longo período de tempo para um objeto: Segundo Pátañjali (Yoga-Sútras, III: 2), “a unidirecionalidade de intenção é meditação”. Para que a meditação ocorra efetivamente, o praticante deve ter passado pelos estágios anteriores: pratyáhára, o isolamento sensorial; e dháraná, a capacidade de dirigir a atenção a um determinado objeto. Quando o dháraná é conservado por pelo menos uma hora, a meditação (dhyána) ocorre espontaneamente, i.e. a meditação se dá por meio da atenção continuada.
O estágio meditativo (dhyána) conduz ao samádhi, a união final com o objeto de meditação, no qual as ilusões da matéria são dissolvidas e a Natureza Real do divino Ser Absoluto brilha como Realidade transluzente. Estes três estágios (dháraná, dhyána e samádhi) também ocorrem naturalmente, um atrás do outro. Pátañjali em seu Yoga-Sútras define-os pelo nome de samyama, i.e. sua pratica combinada ou em seqüência.*
A meditação pode ser praticada com ou sem forma, passiva ou ativa. O Espaço Kaula oferece todos os sábados, às 18:00h, uma meditação coletiva dirigida, seguida de um satsang aberto a professores e praticantes de Yoga, em um encontro de alegria, paz e amor. “Satya” significa Verdade. “Sangha” somos nós. Um satsang é um encontro de pessoas que, unidas, estão dispostas a um mergulho mais profundo em si mesmas na possibilidade de realizarem esta Verdade... Yoga! Com louvores ao Deus Shiva, este satsang celebra o potencial que cada um tem de ir em direção a sua Verdadeira Natureza a fim de realizá-la.
Dharmacakra (meditação coletiva) é uma pratica importante e proveitosa para todos que estão no caminho espiritual. Entre muitos significados, palavra dharma significa a essência da vida humana – conhecer seu verdadeiro ser, conhecer o infinito; e cakra significa circulo. Assim o significado de dharmacakra é um grupo de pessoas que se reúne para atingir sua meta.
Comparecimento regular ao dharmacakra é muito proveitoso pela seguinte razão:
- No começo, a pratica da meditação freqüentemente é difícil. É difícil controlar a mente, as tendências mentais, e, às vazes, o individuo pode sentir-se insignificante e sem forças. Por esta razão é bom meditar regularmente com outras pessoas. A vibração coletiva criada pela união das metas individuais pode vencer todas as dificuldades e dar nova força e estimulo para a pratica do individuo em sua casa.
Assim é o poder do dharmacakra. Este e um serviço que todos nos podemos fazer: “unir nossas forças para dar toda energia às praticas espirituais dos outros”.
O dharmacakra é conduzido de tal modo que une nosso fluxo mental por meio da meditação, criando uma forte vibração coletiva. Ele consiste das seguintes partes:
Bhajans, kiirtans, mantras de abertura da meditação, meditação, mantra de despertar da meditação e por fim mantra de encerramento da meditação.
Bhajans: são canções devocionais. Vivemos em um mundo cheio de agitação, tensão, poluição de todos os tipos, o que entorpece cada vez mais os sentidos humanos. Quando chegamos da rua, estamos com o corpo e mente inundados de todas essas agitações. Por conta disso, é deveras complicado uma pessoa entrar em meditação imediatamente. Assim, deve-se primeiro preparar, deixar os problemas e atividades cotidianas de lado e preparar as mentes para um estado meditativo. Musica e cantos são uma boa maneira de fazer isto. Musica suave eleva nossas mentes.
Kiirtan: é um movimento, uma atividade físico-mental, para preparar o corpo e a mente para meditação. Ajuda nosso corpo, principalmente os membros inferiores tornando-os mais flexíveis, e ajudando-nos a permanecer sentados confortavelmente durante a meditação; atingindo assim melhores estados de concentração. Gradualmente, através da pratica do mantra do kiirtan, a mente torna-se calma e elevada, pronta para o trabalho da meditação. Quando termina o kiirtan, todos se sentam em colunas e filas uniformes. Isso também é essencial para criar uma forte vibração coletiva.
Nós recebemos os convidados em nossa casa, em um ambiente familiar, denominado “Kula”, segundo a tradição a qual participamos. Entre em contato conosco para maiores informações através do e-mail: kaulayoga@hotmail.com. Será um prazer retornar sua mensagem.
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* Para uma compreensão maior acerca dos termos técnicos aqui utilizados veja o artigo “Introdução ao Pátañjala Yoga” no blog “Náth Uttara Sríkulácára Sampradáya”.
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