sexta-feira, 27 de março de 2009

Tradição Nátha Sampradáya

Postado por drashtayoga às 09:45

Hathavidyá Gurukulam


Além da religião e do sistema de castas, esta é uma antiga seita de avadhútayogís. Ela originou-se de Ádi-Nath e fora preservada por Shrí Matsyendranáth que transmitiu a Shrí Gorakshanát Ji os ensinamentos para posteridade...

As origens da Tradição Nátha Sampradáya se perdem nas brumas do tempo. Todavia, conforme a literatura documentada e preservada pelos náthayogís (ou jugís), Ádi-Náth (i.e. Shiva), foi o primeiro de todos os Náthas.

Entre hindus e budistas, a Índia setentrional nos faz recordar de 84 grandes adeptos (mahá-siddhas). Os nomes de muitos adeptos de alto calibre se encontram nesta listagem de mestres tais como Matsyendranáth, Gorakshanáth, Nágárjuna, Tilopa, Náropa e muitos outros. Fora entre a vasta linhagem dos mahá-siddhas que as artes alquímicas da medicina tântrica e do cultivo do corpo (káya-sádhana) foram intensamente perseguidas e desenvolvidas. O cultivo do corpo por seu aperfeiçoamento pleno e total significava a exploração do potencial oculto do corpo humano como um instrumento para transformação espiritual. Através da alquimia interna realizada pelos exercícios psicofísicos desenvolvidos pelos adeptos desta linhagem, o veículo corporal se tornava imune aos estragos do tempo. Assim era construído um corpo imortal, indissolúvel (vraja) e divino (divya), investido de todos os poderes do universo.

Esta tradição setentrional reconhece nove náthas (navnáth) cujos feitos são lembrados em incontáveis lendas remetidas a nós até os dias de hoje. Os nove náthas primordiais foram: Ádi-Náth, Matsyendranátth, Gorakshanáth, Udáyanáth, Sátyanáth, Santoshnáth, Áchal Áchambheynáth, Gaja-Kanthadnáth, Siddha Chaurangináth. As doze seitas agregadas a tradição nátha são: Sátyanáth, Dharamnáth, Darianáth, Ayi Panthi, Vairaag ke, Ram ke, Kapilani, Ganganáthí, Mannáthí, Rawal ke, Paavpanthí e Paagalpanthé.

A tradição nátha floresceu na Índia, região de Bengala, por volta do Séc. VIII d.C., e há registros de sua expansão até o Séc. XIII na literatura Tamil do Sul. Os náthas fazem parte de um dos mais tradicionais cultos místicos da Índia setentrional e seus membros são yogís de castas menos privilegiadas. Empunham o trishúla, utilizam málás feitos de sementes de rudráksha e ostentam em sua fronte o tripundra, típico de todo shaiva praticante.

Historicamente, a tradição Nátha Sampradáya fora fundada pelo sábio Matsyendranáth (900 d.C.) quem recebeu de Shiva as secretas instruções acerca do Hatha Yoga. Este mestre iniciou uma das personalidades espirituais mais respeitadas na Índia, Tibete e Nepal, Gorakshanáth (950 d.C), um grande siddha, pai do Hatha Yoga em sua forma corrente e o grande apóstolo do misticismo yogí na Idade Média. Após Gorakshanáth teve início uma sucessão de mestres realizados (siddhas) como Gahinináth, Nivrttináth e Jñánanáth, entre os primeiros membros da tradição.

A tradição às vezes é chamada de Gorakshaphanthí – por seguir os ensinamentos de Gorakshanáth – e seus aderentes são conhecidos como náthapanthís ou kánphatayogís. Embora a tradição seja shaiva em si, ela ainda agrega elementos do culto shakta, unindo-os com a teoria e prática asceta do Hatha Yoga. A palavra Kánphatha significa, literalmente, ‘fender a orelha’. Os adeptos desta tradição têm a prática de fender o lóbulo da orelha para acomodar grandes brincos alargadores denominados mudrá, dárshana ou kundala. Para os náthayogís estes brincos são muito auspiciosos e perdê-los é sinal de mau agouro e uma grande humilhação. Em tempos remotos, as punições para este desleixo eram rigorosas.

A iniciação (díkshá) se dá em dois níveis: primeiro há um período probatório de seis meses onde o probacionista vive em confinamento para testar sua perseverança. Após este período probatório existe a aceitação formal do probacionista como discípulo, ocasião em que ele recebe um mantra particular e a vestimenta de yogí. No segundo nível de iniciação suas orelhas são fendidas para que uma corrente (nádí) de força vital possa se iniciar fazendo com que os siddhis (poderes mágicos) possam ser mais facilmente adquiridos.

No início a tradição era ascética, contudo, nos dias de hoje ela preserva em suas fileiras homens e mulheres que são em sua maioria casados (laicos). Em geral são adeptos (náthaphanthís) que se dedicam ao estudo da tradição e ciências espirituais cognatas. No final do Séc. XVI d.C. a tradição viu muitos de seus templos destruídos nas mãos dos Sikhs, contudo existem ainda inúmeros mosteiros (mathas) espalhados pela Índia. Cada um destes mosteiros pertence a uma das doze subdivisões originais da tradição citadas acima.

A tradição também é conhecida como siddhamárga ou avadhútamárga. E como os professores (ácháryas) dela enfatizam a prática do Hatha Yoga como um recurso na direção da realização da perfeição (siddhi), ela também passou a ser designada como yogamárga.

Um discípulo que se propõe a ser um náthasamnyási tem essencialmente três gurus neste sampradáya:

Chot-Guru: após o período probatório, este guru entrega ao discípulo sua vestimenta yogí (na cor alaranjada), corta seus cabelos e lhe entrega a palavra de poder, i.e. o mantra de iniciação. O discípulo é instruído nas regras do auto-controle e nas práticas do Yoga. Após um período de adaptação, sua cabeça é raspada e ele passa sempre a utilizar a vestimenta alaranjada.

Chira-Guru: é o guru das lágrimas; após o discípulo ter recebido as instruções acerca do Yoga, sua vestimenta yogí e seu mantra de iniciação, ele tem os lóbulos de suas orelhas fendidas e recebem o kundala.

Mantra-Guru ou Updésh-Guru: neste nível, o guru ensina ao discípulo seu mantra secreto e lhe confere todos os conhecimentos e a proteção da tradição, mas somente após ele ter jurado seguir seus ensinamentos e cumprir todos os seus comandos até o fim de sua vida, com o objetivo último de se realizar como um nátha.

Shrí Gorakshanáth Ji promulgou que todos os adeptos da tradição tivessem os lóbulos das orelhas perfurados para suportarem os brincos (alargadores) feitos de barro, ouro, osso ou chifre de rinoceronte, e estes deveriam ser utilizados sempre a fim de afirmarem seu compromisso com o sampradáya, assim como a dedicação e determinação dos discípulos. Na intenção de verificar o profundo sentimento de desinteresse e o poder de suportar a dor, Gorakshanáth estabelecia esta tradição como um teste a seus seguidores. Aqueles que permaneciam sem usar as kundalas eram chamados de oghad, que significa nátha pela metade, e portanto não são alocados na categoria de iniciados reais.

Quando se sentam para meditar costumam invocar Alakh, um dos nomes de Shiva como “o invisível” ou “o espírito invisível que se encontra no fim do universo”. Ainda, quando se encontram, se cumprimentam com a palavra ádesh, que significa “comando”. Uma injunção para que o outro assuma sua “verdadeira natureza”, tornando-se assim um indivíduo livre (svatantrí). A palavra vem da raiz ádísh, que significa “tu és Brahman encarnado” ou “tu és Brahman em pura forma”.

Quando um laico aceita de coração um áchárya do Navnáth Sampradáya, é comum receber a iniciação por um sinal da sua graça, um olhar, um toque ou uma palavra, por vezes, um vívido sonho ou uma forte lembrança. Às vezes, o único sinal da graça é uma significativa e rápida mudança no caráter e no comportamento.

Os náthas são os responsáveis pelo que hoje conhecemos como a “Ciência do Hatha Yoga” ou Hathavidyá Gurukulam, uma revisão tântrica dos ensinamentos propostos por Pátañjali em seu Yoga Clássico, e sua doutrina foi criteriosamente apontada em manuais como o Gorakshapaddhati, Gorakshashatakam, Siddhasiddhántapaddhati, Gorakshabodh, Goraksha Samhitá, Yogavishaya, Hatha Ratnávali, Hathapradípiká, Gheranda Samhitá, Shiva Samhitá, Shatkarmasangrahah e outros.

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